A mineração no Nordeste vive, hoje, um momento de transformação. O setor, que por muito tempo foi visto como secundário frente aos grandes polos do Sudeste e Norte, está finalmente assumindo protagonismo. Em especial, o estado da Bahia desponta como uma nova frente mineral com escala, relevância e ambição.

Nos painéis dedicados à “nova fronteira mineral do Nordeste” durante a Exposibram, executivos e especialistas foram claros: “esse território que precisa ser desenvolvido, precisa ter oportunidades”, afirmou Marcelo Silvestre, CEO da Galvani/FOSNOR.

A partir dessa perspectiva, convém entender onde a região está, para onde vai e quais os fatores que sustentam essa mudança.

O contexto da mineração na região e sua participação nacional

Quando falamos de mineração no Brasil, os números gerais ajudam a dar contexto. Em 2024, por exemplo, as 200 maiores empresas do setor responderam por cerca deR$ 270,8 bilhões em valor da produção mineral, excluindo petróleo e gás. Dessas, os segmentos deminério de ferro (59,2%),ouro (7,77%) ecobre (7,41%) dominaram mais de 74% do valor da produção nacional.

Agora, quando olhamos para o Nordeste, uma coisa clara é que ele ainda não participa com a mesma intensidade que os grandes polos tradicionais, mas está ganhando terreno. Por exemplo, a Bahia responde por cerca de7,2% dos empregos diretos da mineração brasileira, com 15.823 empregos diretos em 2024 no setor mineral, segundo o relatório Mineração na Bahia. Ainda no relatório são citados mais de 170 mil empregos diretos + indiretos estimados somente na Bahia.

Também é relevante saber que a Bahia produzia 47 substâncias minerais (2024), com mais de 29.336 títulos minerários ativos e mais de 1.604 títulos de lavra. A Revista Brasil Mineral aponta que a Bahia é oterceiro maior estado em produção mineral do Brasil, atrás apenas de Minas Gerais e Pará, com participação estimada em cerca de 5% da produção nacional.

Esses dados mostram que, efetivamente, a Bahia e, portanto, o Nordeste, estão em ascensão. Mas ainda há brechas frente aos protagonistas nacionais.

Principais minerais e nichos estratégicos no Nordeste

Ao observarmos a região Nordeste e seus estados, alguns minerais se destacam:

  • Gold: a região baiana, por exemplo, conta com operações históricas de ouro, como no município de Jacobina (BA),  importante para a economia local.
  • Magnesita: conforme a fala deWagner Mariano Sampaio, presidente regional Latam da RHI Magnesita, “Como principal mineral usado como matéria-prima na fabricação de refratários… a magnesita é a base para a transição energética, para o progresso e para a nossa defesa.” Ele destacou que o Brasil, especialmente a Bahia (Brumado), dispõe de “uma das maiores e mais puras reservas de magnesita do mundo”.
  • Fertilizantes / fosfatos / potássio: a região possui projetos de fosfato e fertilizantes estratégicos, que a tornariam menos dependente de importação desses insumos. A fala deMarcelo Silvestre também alude ao setor de fertilizantes: “o território que precisa ser desenvolvido… o dever de fazer isso com muita responsabilidade”.
  • Rochas ornamentais, caulim, gesso: no Nordeste há forte presença desse tipo de mineração industrial e de rochas para construção/exportação.
  • Metais básicos (níquel, cobre) e minerais críticos: embora em menor escala que Norte ou Centro-Oeste, há potencial exploratório crescente.

Vale destacar que, nacionalmente, minerais como fertilizantes (1,73% do valor da produção nacional) aparecem entre os segmentos de menor escala. Para o Nordeste, essa diversificação representa oportunidade: não apenas concorrer em minério de ferro e ouro, mas também em minerais industriais e estratégicos.

A Bahia como protagonista regional (o que dizem os especialistas)

A Bahia tem sido alçada ao papel de protagonista nordestino no setor mineral. Em evento recente, a Exposibram em Salvador destacou o tema “nova fronteira mineral do Nordeste”.

Alguns trechos relevantes:

  • Como mencionouAna Sanches (Anglo American Brasil): “A nova fronteira mineral do Nordeste, com destaque para a Bahia, é um convite a investir com responsabilidade, acelerar pesquisas geológicas e construir parcerias que gerem valor real para o país e para o planeta.”
  • Marcelo Silvestre afirmou que “a parceria do público e privado com políticas públicas bem alinhadas … levando as questões de sustentabilidade, levando as questões de licença social para operar … é muito importante porque talvez não tenha outra oportunidade.”
  • Wagner Sampaio (RHI Magnesita) reforçou que “o evento … mostrou o quanto o setor leva transformação e desenvolvimento para o interior do nosso país, além de reforçar como os nossos minerais são a base para tudo o que nos rodeia.”

Essas falas evidenciam três vetores: (i) a importância dagovernança, sustentabilidade e licença social, (ii) o papel dainfraestrutura e logística, e (iii) a relevância de que o Nordeste não seja apenas explorado, mas que participe de forma estratégica e agregada ao valor.

Em termos práticos, para a Bahia já se registram:

  • Projetos de investimento estimados de cerca deUS$ 9 bilhões para o estado, representando aproximadamente 13,2% do total nacional previsto para 2025-2029.

Isso mostra que o avanço não é apenas retórico.

Infraestrutura, logística e apoio regulatório: fatores críticos de sucesso

O avanço da mineração no Nordeste não se dará apenas pela existência de jazidas, mas pela combinação de fatores estruturais. Nas discussões da Exposibram:

  • O painel da Parte II, moderado por Patrícia Procópio, enfatizou “inovação, ESG e infraestrutura” como pilares fundamentais.
  • Alex Trevizan (Transnordestina Logística) sublinhou que corredores ferroviários, portos e terminais no Nordeste são decisivos para a competitividade dos projetos minerais da região.

Esses elementos estruturais reduzem o custo Brasil, melhoram a logística e atraem novos investidores. Como disse Marcelo Silvestre: “Nós, como empresários, como empreendedores de mineração, temos hoje o dever de fazer isso com muita responsabilidade.” A licença social, o diálogo com as comunidades e a integração com a economia local ganham peso.

Desafios e oportunidades para o Nordeste

Antes de projetar o futuro da mineração nordestina, é essencial observar os fatores que podem acelerar ou limitar esse avanço. A região reúne condições geológicas favoráveis e um cenário de investimentos promissor, mas também enfrenta obstáculos estruturais e socioambientais que precisam ser considerados para sustentar esse novo ciclo de crescimento. Nesse equilíbrio entre potencial e limitações, surgem os principais desafios e oportunidades para o Nordeste.

Oportunidades

  • A diversificação mineral (não só ferro/ouro) permite ao Nordeste ocupar nichos como fertilizantes, metais críticos e minerais industriais.
  • A Bahia e demais estados podem captar investimentos nacionais e internacionais em uma transição energética e demanda por minerais estratégicos.
  • A valorização da mineração responsável e sustentável coloca vantagem competitiva frente a regiões que seguem com modelos mais tradicionais.

Desafios

  • Apesar do crescimento, a participação regional ainda é menor comparada aos estados tradicionais no minerador nacional.
  • Sustentabilidade, impacto social e meio ambiente: comunidades tradicionais e biomas como a Caatinga exigem cuidado ampliado.
  • Regulação, licenciamento e logística ainda representam gargalos.
  • A competitividade global exige tecnologia, qualificação e processos eficientes.

Aonde o setor vai e como o Nordeste se posiciona

Com os elementos reunidos, dados concretos, falas estratégicas, diversificação mineral e infraestrutura, podemos vislumbrar o próximo passo:

  • A mineração nordestina caminha para se tornar parte significativa da produção nacional e global de minerais críticos.
  • A Bahia continuará sendo o laboratório dessa nova fronteira, com protagonismo regional e potencial internacional.
  • Setores como fertilizantes, metais para baterias, magnesita/refratários, e rochas industriais devem ganhar escala.
  • A combinação setor público-privado, tecnologias verdes e logística eficiente será o diferencial competitivo. Conforme Ana Sanches colocou: “uma mineração que olha para o futuro com responsabilidade, diversidade e protagonismo na transição energética.”

À medida que a mineração no Nordeste avança, fica evidente queestamos diante de um movimento estrutural e não apenas conjuntural. O alinhamento entre empresas, governo, instituições e comunidades, aliado ao potencial geológico e à expansão da infraestrutura, abre caminho para um ciclo de desenvolvimento capaz de reposicionar a região no mapa mineral do país.

O que se desenha agora é um território que deixa de ser promessa e passa a ser realidade: uma nova fronteira mineral construída com responsabilidade, visão e capacidade de gerar valor econômico e social de forma duradoura.

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