No segundo semestre de 2025, o setor de mineração brasileiro vive uma espécie de “safra”,  um período de condições excepcionalmente favoráveis, impulsionado tanto por fatores climáticos quanto por movimentos geopolíticos. Após um início de ano marcado por chuvas intensas, que impactaram operações em diversas regiões, o clima mais seco trouxe estabilidade e recuperação na produção.

Ao mesmo tempo, o interesse crescente da China por minerais estratégicos brasileiros elevou a demanda e os preços, gerando margens de lucro mais robustas para as mineradoras. Esse contexto cria uma janela de oportunidade única: usar a lucratividade extra para revisar processos logísticos, investir em tecnologia e preparar a empresa para os ciclos de baixa que inevitavelmente virão.

A seguir, mostramos como fatores climáticos e geopolíticos estão moldando a mineração e quais medidas práticas diretores e tomadores de decisão podem adotar para transformar esse cenário positivo em ganhos estruturais e duradouros.

Safra impulsionada por condições climáticas favoráveis

O regime climático no Brasil tem impacto direto na mineração. Historicamente, os primeiros meses do ano (estação chuvosa) trazem desafios operacionais, como inundações, interrupções de transporte e queda na qualidade do minério (devido à umidade elevada). Em alguns casos, a umidade excessiva do pellet feed(matéria-prima de pelotas de ferro) reduziu a eficiência de plantas de processamento, como reportado pela Vale. Esses obstáculos climáticos do primeiro trimestre limitaram temporariamente a oferta e exigiram recomposição de estoques quando o clima melhorou.

Felizmente, a partir do segundo trimestre e ao longo do segundo semestre, o cenário meteorológico tornou-se muito mais favorável. O período de seca, comum no inverno brasileiro trouxe estabilidade operacional, permitindo recuperar o tempo perdido e até bater recordes de produção. A Vale, por exemplo, registrou produção trimestral recorde em sua mina de S11D (Pará) no segundo trimestre de 2025.

Esse aumento de produtividade reflexo do clima criou receitas extras que podem e devem ser reinvestidas em melhorias logísticas e tecnológicas, preparando a empresa para futuros períodos menos abundantes.

Cenário geopolítico: interesse chinês fortalece a mineração brasileira

A Mina de Pitinga, no Amazonas, adquirida por uma estatal chinesa em 2024, exemplifica o crescente interesse estrangeiro pela mineração brasileira. Investimentos bilionários da China em litío, estanho e níquel impulsionam o setor mineral nacional e elevam sua lucratividade.

Paralelamente às condições climáticas favoráveis, o cenário geopolítico internacional tem atuado como catalisador da safra mineral em 2025. A China, em especial, intensificou sua busca por minerais estratégicos no Brasil, aumentando investimentos e compras em ritmo acelerado. Nos últimos anos, empresas chinesas protagonizaram aquisições importantes: em 2023 a montadora BYD obteve direitos de exploração de lítio em Minas Gerais; em 2024 a estatal China Nonferrous Trade (CNT) comprou a operação da Mina de Pitinga (estanho, no Amazonas) por cerca de R$ 2 bilhões; pouco depois, a chinesa MMG adquiriu a exploração de níquel da Anglo American no Brasil por quase R$ 3 bilhões. Essa voracidade chinesa por reservas brasileiras elevou o patamar de atividade no setor e acirrou debates sobre regulamentação de capital estrangeiro na mineração.

Mais do que investir diretamente, a China também impulsiona a mineração brasileira como principal cliente. O país asiático já era o maior comprador de minérios do Brasil e ampliou ainda mais suas encomendas recentemente. E o apetite só cresce: as exportações brasileiras de terras raras para a China, por exemplo, triplicaram no 1º semestre de 2025 em comparação ao total de 2024, refletindo a busca por insumos de alta tecnologia. Essa forte demanda externa elevou preços e receitas das mineradoras locais no segundo semestre de 2025, caracterizando uma verdadeira “bonança” geopolítica.

No entanto, vale lembrar que ciclos de alta nem sempre duram. O interesse chinês é uma via de mão dupla: se bem aproveitado, pode trazer investimentos e crescimento sustentáveis; caso contrário, pode levar à dependência excessiva ou vulnerabilidade a mudanças políticas. Por isso, as empresas mineradoras brasileiras devem aproveitar o momento de vacas gordas para investir nelas mesmas, em eficiência, tecnologia, pessoas e planejamento. A seguir, discutimos algumas iniciativas para usar a safra atual como trampolim para uma transformação logística e operacional duradoura.

Investindo em tecnologia e eficiência durante a bonança

Com a lucratividade em alta, é tentador apenas colher os frutos do bom momento. Contudo, os diretores e tomadores de decisão do setor de mineração precisam pensar adiante e alocar parte dos ganhos na modernização de seus processos. A ‘safra’ atual oferece condições financeiras e operacionais ideais para implementar mudanças que, em períodos menos favoráveis, poderiam ser difíceis de viabilizar. Confira algumas frentes de melhoria que merecem atenção:

Modernização do ERP e integração de processos

Um ERP (Enterprise Resource Planning) robusto e especializado em mineração é a espinha dorsal de uma gestão eficiente. Muitas mineradoras ainda operam com sistemas legados ou conjuntos de planilhas e softwares desconectados, o que leva a retrabalho, falta de visibilidade e decisões lentas. Em tempos de caixa fortalecido, avaliar a troca ou upgrade do ERP é um passo estratégico para revolucionar a logística e outras áreas. Sistemas integrados conseguem unificar dados de produção, estoque, vendas e transporte em tempo real, permitindo ajustes ágeis na cadeia de suprimentos conforme as demandas de mercado. A grande maioria do setor enxerga a transformação digital como questão de sobrevivência.

Ao adotar um ERP moderno, como um específico para mineradoras, a empresa ganha controle centralizado sobre operações antes fragmentadas. É possível gerenciar frotas, programação de carregamentos, manutenção de equipamentos e expedição de produtos de forma coordenada. Por exemplo, um bom ERP em mineração permite acompanhar os níveis de estoques de minério, alocar caminhões conforme a disponibilidade e até, tudo numa mesma plataforma. Isso reduz atrasos e gargalos logísticos, além de tornar os custos mais transparentes. Além disso, um sistema integrado facilita o compliance regulatório (ex.: controle de CFEM, emissões de notas fiscais, relatórios ambientais), evitando multas e embargos por falta de controle. 

A safra de lucros atual é o momento ideal para esse investimento, pois mitiga a resistência interna (afinal, há recursos e urgência menor) e coloca a empresa na vanguarda tecnológica quando o ciclo de baixa chegar.

Revisão da jornada comercial e logística

Outra iniciativa recomendada é revisar a “jornada comercial” da empresa, do pedido à entrega. Em períodos de alta demanda, muitas mineradoras operam próximo do limite, o que pode revelar ineficiências no processo de vendas e atendimento aos clientes. Aproveite a folga financeira para mapear e otimizar cada etapa: cotação, contrato, produção, transporte e pós-venda. Integrar melhor as áreas comercial, de produção e logística é fundamental para assegurar que o que foi vendido 

Uma dica prática é aproveitar os recursos de um ERP especializado em mineração, que já concentra as informações comerciais e operacionais em um só lugar. Assim, é possível alinhar as necessidades dos clientes (quantidades, especificações, prazos) diretamente com a programação da mina e da expedição, sem depender de integrações externas. Por exemplo, se clientes aumentam a demanda por um produto específico, o time comercial consegue registrar esse pedido no sistema e a operação passa a priorizar sua produção e expedição. Funcionalidades como o agendamento de cargas permitem organizar a retirada de forma previsível, reduzindo filas e gargalos logísticos. Dessa forma, a mineradora ganha agilidade, confiabilidade e transparência, fortalecendo a relação comercial e a confiança no atendimento. Empresas que estruturam essa jornada comercial e logística em sistemas integrados tendem a fidelizar clientes e sustentar vendas mesmo em períodos de retração. 

Vale lembrar que muitos compradores estrangeiros, como as empresas chinesas, valorizam parcerias confiáveis e previsíveis, quem conseguir fornecer volumes no prazo consistente terá vantagem competitiva. Portanto, use o bom momento para instaurar uma cultura de excelência no atendimento comercial e logístico, com indicadores de performance claros e melhoria contínua. Empresas que gerenciam proativamente essa jornada completo tendem a fidelizar clientes e sustentar vendas mesmo quando o mercado esfriar.

Uma jornada comercial bem planejada, suportada por sistemas integrados, garante que a logística execute com perfeição o que o comercial vendeu, maximizando receita e reputação.

Capacitação da equipe e cultura de inovação

Nenhuma mudança de processos ou tecnologia se sustenta sem pessoas capacitadas. Novos sistemas (como um ERP ou CRM atualizados), métodos de trabalho diferentes e metas mais ambiciosas exigem que os colaboradores estejam preparados e alinhados. Programas de treinamento técnico, por exemplo, em operação de sistemas de despacho, em análise de dados ou em manutenção preditiva,  geram retornos significativos. 

Além de cursos formais, considere implementar programas de gestão da mudança ao introduzir novas ferramentas. Envolver os colaboradores desde o planejamento das melhorias logísticas ajuda a reduzir resistências e a colher insights práticos de quem vivencia os processos no dia a dia. Uma cultura de inovação e melhoria contínua deve ser incentivada: crie espaços para que times de logística, vendas, produção e TI discutam juntos problemas e proponham soluções. Muitas vezes, pequenas otimizações sugeridas pela equipe resultam em economia de tempo ou dinheiro significativa no acumulado anual. Em paralelo, mantenha o foco em segurança e conformidade nos treinamentos. Mesmo com pressões para produzir mais rápido durante a safra, a segurança dos trabalhadores e o cuidado ambiental não podem ficar em segundo plano – pelo contrário, devem ser reforçados com uso de novas tecnologias (sensores, IoT, analytics) para gestão de riscos. 

Em resumo, aproveite o momento favorável para formar uma equipe mais qualificada, motivada e consciente, capaz de operar processos logísticos de ponta e se adaptar rapidamente a novas demandas.

Planejamento estratégico de longo prazo

Por fim, mas não menos importante, a safra atual deve servir de base para um planejamento estratégico de longo prazo. É comum que, na mineração brasileira, a euforia de um ciclo positivo dê lugar à acomodação, porém, os líderes mais eficazes usarão esse período para pensar 5, 10 ou até 20 anos à frente. O contexto geopolítico nos ensina algo valioso: enquanto o Brasil muitas vezes planeja apenas mês a mês, a China se planeja para os próximos 100 anos, como destacou o consultor Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil.  Essa diferença de horizonte pode decidir quem dominará certas cadeias produtivas no futuro. Portanto, as mineradoras nacionais precisam incorporar a mentalidade de longo prazo em suas decisões presentes.

Um bom planejamento estratégico envolve projetar diferentes cenários (otimistas e pessimistas) pós-safra e definir ações para cada um. E se os preços do minério caírem em 2026? E se novas regulamentações ambientais surgirem? Estar preparado para mudanças significa ter reservas financeiras, planos de contingência e projetos de diversificação já engatilhados. Também é hora de pensar na transição energética e sustentabilidade: muitos minerais em alta hoje (lítio, cobre, níquel, terras raras) estão ligados à economia de baixo carbono. A empresa deve alinhar seu portfólio a essas tendências de longo prazo. 

Conclusão

O segundo semestre de 2025 trouxe um alinhamento raro de fatores positivos para as mineradoras brasileiras: clima colaborando com a produção e cenário global aquecido pela demanda chinesa. Tal ‘safra’ de resultados é o momento propício para mudar de patamar, evoluindo processos logísticos e operacionais que garantirão competitividade duradoura. 

Seja implantando um novo ERP, refinando a coordenação entre vendas e entregas, capacitando equipes ou desenhando planos de longo prazo, o importante é não desperdiçar a oportunidade. Aproveitar os ganhos atuais para reinvestir em eficiência e inovaçãofará com que a empresa de mineração esteja preparada para enfrentar futuros desafios de mercado em terreno muito mais sólido. 

Aproveitar a, portanto, não é apenas usufruir do presente, é construir o futuro do setor mineral com eficiência, inovação e visão estratégica.

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